arco-íris

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O Dia do Orgulho LGBT remete a manifestações que aconteceram em 1969, nos Estados Unidos, em função da sociedade anti-homossexual e da opressão policial a gays, lésbicas, transexuais e drag queens, em bares e ruas de Nova York. Após 52 anos, em muitos países já existem leis que protegem a comunidade LGBTQIA+, porém o preconceito parece estar intacto em parte da sociedade.

Em 7 de maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de ver a homossexualidade como uma doença, porém, mais de 30 anos depois, a luta contra o preconceito e pela humanização de pessoas da comunicade colorida ainda é diário. Uma luta pelo básico, pelo reconhecimento e aceitação de serem quem realmente são. Aline Paz, Maiquel Francisco dos Santos Rios e Liviê Cocco Rodrigues são algumas dessas milhares de pessoas que expressam no seu dia a dia o orgulho de estarem trilhando o próprio caminho. O psicoterapeuta Marcos Pippi fala sobre o desafio de lidar com o preconceito e como as crianças podem crescer longe dele.


ORGULHO NO TRABALHO

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos 

No apartamento do enfermeiro Maiquel Francisco dos Santos Rios, 37 anos, é possível perceber que o orgulho e a luta estão presentes no seu dia a dia. Na moradia, que ele divide com o companheiro, tem fotos do casal e decoração com as cores da bandeira do arco-íris, símbolo do movimento LGBTQIA+. Maiquel trabalha na unidade de atenção psicossocial Paulo Guedes, no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), e é especialista em Estudos de Gênero pela UFSM. No trabalho, procura conscientizar, vestindo uma camiseta, os pacientes sobre o preconceito sofrido por profissionais LGBTs.

- A especialização me ajudou a ter mais ênfase na luta contra a homofobia, e a camiseta LGBT que eu visto, é por eu ser homosexual, e por que nos espaços que a gente frequenta, temos que estar lutando sempre. Ouço relatos de profissionais que sofrem preconceito. Seja vindo de pacientes que não querem ser atendidos por um funcionário que é gay ou lésbica, seja de colegas do hospital, de forma velada. Um preconceito que vem em forma de piada, de deboche vindo de profissionais que são pessoas que não deveriam ter esse tipo de conduta - relata.

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Maiquel conta que está organizando ações de conscientização para trabalhar no Husm com educação continuada, com esclarecimentos de questões sobre o universo LGBTQIA+. Explicar sobre como o preconceito, as piadas e o deboche afetam a vida dessas pessoas:

- A aceitação parte da gente. Mas essa pressão que a gente sofre da sociedade, de julgamento e preconceito, a gente não deve mais aceitar. Temos que ter a liberdade de sermos quem a gente é. E essa é uma luta que eu comprei para mim, por fazer parte dessa minoria.

A partir da especialização, Maiquel conta que tem participado de rodas de conversa e de lives relacionadas ao tema. Inclusive, ele participa, na terça-feira, de um seminário, às 19h, com transmissão pelo canal do Grupo LABEST no YouTube, com o tema "A Enfermagem frente à Comunidade LGBTQIA+: Desafios do cotidiano de trabalho".

ORGULHO NA INTERNET


style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Marcelo Oliveira/Especial

Aline Paz faz doutorado em Comunicação na UFSM, o que a levou a ter uma preocupação maior na divulgação científica, ainda mais que, na pandemia, as relações estão concentradas no virtual. Ela criou os canais Desfazendo Ideias, no YouTube e no Instagram, para falar sobre sexualidade, violência contra a mulher e gênero.

- Penso sempre em cinco questões sobre essas temáticas. Da mesma forma que a branquitude precisa entender que vivemos numa sociedade racista, nós vivemos numa sociedade heteroxualizada, e precisamos desnaturalizar isso. A nossa sexualidade é fluida em muitas versões que poderiam ser melhor expressadas se desconsiderarmos esse padrão heteroxessual que diz quem seria normal, certo e correto.

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A pesquisadora afirma que estamos em 2021, com tanta informação e ainda precisamos explicar o óbvio, coisas que são particulares à vida das pessoas:

- Vivemos uma disputa de narrativas, e ela diz quem vai viver ou não. É difícil sobreviver numa sociedade tão preconceituosa e com discriminações tão enraizadas. É desesperador precisar de um espaço como esse para dizer que todas as vidas merecem respeito, direitos iguais, que homossexuais têm direito às leis heterosexuais. Não há como tolerar o intolerável, não há negociação entre liberdade de expressão e discurso de ódio, porque esse está ligado à inferiorização do outro.

Para Aline, essas pessoas desconhecem completamente a história de opressão que pessoas LGBT viveram no Brasil, como na época da ditadura, e no mundo.

- Fico pensando em como será contado esse momento histórico perturbador que vivemos no Brasil. Como vai ser contada essa história, se há tanto negacionismo, se a crença das pessoas ainda é embasada em um Deus punidor? Há, então, esse embate de narrativas, onde existem essas pessoas que têm tanta influência e nós dos movimentos LGBTs, do feminismo. Estamos dizendo: olha, essas vidas merecem ser vividas, há uma história por trás do preconceito, da repressão sexual - conclui Aline.

ORGULHO NA IDENTIDADE

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Arquivo pessoal

Liviê Cocco Rodrigues, 21 anos, se identifica como não binária. O último 10 de junho era um dia muito especial para ela, o dia em que finalmente ia tomar a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Com os documentos de comprovação de estágio em uma escola com seu nome escolhido, a estudante de Artes Visuais da UFSM se deparou com uma situação constrangedora. Por ter ainda o documento de identidade com seu nome de registro, teve sua carteira de vacina registrada com o nome que não reconhece mais como seu.

- A enfermeira ignorou o que eu disse, preencheu o formulário com o nome que estava na identidade, nem olhou o documento da escola. Antes de tomar a vacina, ela me perguntou se realmente todas as pessoas que eu convivo me chamavam por esse nome. Eu até achei que ela não tinha entendido. Quando ela me perguntou, foi que eu percebi que ela tinha entendido tudo e só não estava respeitando - relata.

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A questão do nome se iniciou no ano passado. Mas o momento de dar a girada de chave para o questionamento do gênero foi no final de 2019:

- Isso veio da universidade, de disciplinas que me fizeram questionar essas coisas, das conversas que tive. A gente sabe que as coisas existem porque elas têm nomes. E as pessoas não te chamarem pelo teu nome, dá esse sentimento de inexistência.

Nas aulas que ministra, Liviê sente que o ambiente escolar é um incentivo. Mesmo sem se considerar com propriedade de tratar sobre o assunto, ela percebe que os alunos entendem sua orientação.

- A cada 15 dias dou aula online. Os alunos conseguem me ver, saber quem eu sou e eu consigo me aproximar dele assim. E eu tinha esse interesse de levar essas questões para a escola, mas tenho dificuldade e receio de abordar. Mas ao mesmo tempo, as próprias crianças me encorajam, mesmo não sabendo de fato que eu sou uma professora trans ali, porque elas trazem os discursos, mesmo em produções que não são realacionadas a gênero elas trazem essas questões ali - conclui.

A TEMÁTICA NO DIVÃ

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Marcelo Oliveira/Especial

Para o psicanalista Marcos Pippi, 46 anos, não é possível, hoje, aceitar ou respeitar um discurso homofóbico, pois há uma longa estrada dos movimentos sociais que foram incluindo na sociedade as manifestações da sexualidade, que, antes, estavam delegadas à anormalidade, ao desvio.

- O sentido dos movimentos sociais foi de modificar algo que, antes, funcionava num regime de exclusão, que não fazia parte de um certo modelo de vida. Se a gente compartilha de valores democráticos, que vou chamar de modernos, obviamente que manifestações racistas, homofóbicas, precisam e devem ser problematizadas. E, muitas vezes, de maneira bem dura.

Para Marcos é fundamental para o ser humano ocupar uma posição que diga do seu desejo. Segundo ele, isso é trabalhoso, não é uma escolha aleatória, obedece a uma certa lógica interna e subjetiva e não é como escolher itens no supermercado:

- Entre os jovens, encontra-se as piores situações. Antes que consigam se nomear socialmente, encontrar seus pares, encontrar algum reconhecimento familiar. Antes de "sair do armário", há muito sofrimento, porque nesse caso em particular, o sujeito está se firmando no seu desejo já sabendo que a sociedade não dá o respaldo para ele ser o que é.

O psicanalista ressalta que falar para crianças sobre preceitos democráticos, de respeito e diferenças, significa acreditar neles, em ato, não só nas palavras. Que no dia a dia a criança viva com pais que respeitem o outro.

- A gente não vai apresentar todas as coisas do mundo para uma criança. Estão no mundo em que ela vive as manifestações da sexualidade, as diferenças. Antes de qualquer coisa, crianças que, de alguma forma possam se relacionar com isso de uma outra maneira, precisam de pais dispostos a pensar isso em si, a trabalhar no seu próprio encontro com as diferenças. Se a tua visão de mundo é uma visão que exclui um monte de gente para poder existir, se você só tem ódio a essa diferença a transmitir para um filho, vai ser o ponto de partida. Não que ele vá ficar necessariamente tomado nisso, mas vai ter que fazer um trabalho maior para poder construir uma relação aberta à diferença - conclui.

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Violência contra comunidade LGBTQIA+

Em 2020, 237 LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) tiveram morte violenta no Brasil, vítimas da homotransfobia: 224 homicídios (94,5%) e 13 suicídios (5,5%). É o que mostra o Relatório: Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil.

Diferentemente do que se repete desde que o Grupo Gay da Bahia iniciou a pesquisa, em 1980, pela primeira vez, as travestis ultrapassaram os gays em número de mortes: 161 travestis e trans (70%), 51 gays (22%) 10 lésbicas (5%), 3 homens trans (1%), 3 bissexuais (1%) e, finalmente, 2 heterossexuais confundidos com gays (0,4%). O relatório mostra ainda que, comparativamente aos anos anteriores, observou-se em 2020 surpreendente redução das mortes violentas de LGBT+: de 329 para 237, diminuição de 28%. O ano recorde foi 2017, com 445 mortes, seguido em 2018 com 420, baixando para 329 mortes em 2019. (Fonte: agenciaaids.com.br)

STONEWALL INN.

Em 1969, uma série de manifestações da comunidade LGBT se iniciou após uma das ações violentas da polícia de Nova York ao bar Stonewall Inn, bar dedicado ao público gay que sofria com o preconceito e a extorsão de policiais em uma época em que havia uma cultura anti-homossexual nos Estados Unidos. Em 28 de junho daquele ano, uma ação desastrosa da polícia, policiais disfarçados entraram no Stonewall e deram voz de prisão a mais de 200 pessoas que estavam no bar. Em pouquíssimo tempo, a polícia teve de se proteger dentro do bar e os manifestantes continuaram até outros policiais e bombeiros chegarem ao local. Depois deste episódio, manifestações nos arredores da cidade ocorreram por cinco dias e envolveram milhares de pessoas. Após um ano da rebelião de Stonewall, milhares de pessoas da comunidade LGBT+ marcharam do local do bar até o Central Park. Essa marcha foi reconhecida como a primeira parada gay dos Estados Unidos.

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